A inteligência artificial (IA) começa a ser aplicada a diferentes áreas do saneamento, da gestão de qualidade da água à infraestrutura, passando pela análise de dados de consumo para otimizar processos e eventuais reparos na rede. A Águas do Rio, empresa do grupo Aegea que opera no Rio de Janeiro, desenvolve algoritmos próprios que ajudam na prevenção de eventos e indicam potenciais oportunidades operacionais.
A IA é integrada ao sistema gestão de ativos da companhia e a plataformas computacionais customizáveis, como o Elipse Water, usado para controlar todas as estruturas e o sistema de abastecimento, monitorando 18 mil variáveis de pressão, vazão, níveis de reservatórios, nas tubulações e enviando informações em tempo real, 24h por dia. “Isso resulta em uma gestão mais proativa e preventiva, reduzindo perdas e melhorando a qualidade dos serviços”, diz Anselmo Leal, diretor-presidente da concessionária.
O executivo lembra que a Águas do Rio recebeu o sistema da Cedae, que inclui represas construídas no tempo do imperador Dom Pedro I e estruturas atuais, construídas e adaptadas de acordo com o ritmo de crescimento urbano da capital fluminense. “Das 1.300 unidades recebidas, apenas 66 tinham monitoramento online. Hoje, 50% estão automatizadas e são operadas à distância, e o projeto segue em ampliação”, afirma.
Segundo Leal, a concessionária já investiu R$ 3,5 bilhões na recuperação da rede e a tecnologia tem sido fundamental nesse processo. “A IA é usada para elaboração dos modelos computacionais de simulação hidráulica, por exemplo, que cria um gêmeo digital que permite simular condições operativas e antever as reações do sistema.”
Para Cristina Zuffo, superintendente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Sabesp, soluções de IA têm grande potencial para melhorar a eficiência, reduzir custos e otimizar o gerenciamento dos recursos hídricos e de esgoto. A tecnologia, por exemplo, aumenta a velocidade e a capacidade de identificação de perdas, seja por vazamentos ou fraudes. A Sabesp também usa internet das coisas (IoT) em sistemas de sensoriamento e gestão de redes e hidrômetros que coletam dados sobre qualidade da água, fluxo, pressão e outros.
“A IA pode analisar esses dados para detectar anomalias em redes de distribuição de água, despejos irregulares na rede de esgoto, falhas em equipamentos, qualidade de mananciais de abastecimento, dentre muitas outras aplicações”, afirma Zuffo. A concessionária paulista ainda investe na automação de estações de tratamento, com algoritmos de aprendizado de máquina para melhorar processos e reduzir perdas.
Valter Lucas Júnior, gerente da Unidade de Serviços de Hidrometria da Copasa, em Minas Gerais, destaca a importância da nova tecnologia no combate a fraudes e vazamentos. A Copasa estima haver ao menos 300 mil ligações fraudulentas na sua área de concessão. Usando IA para cruzar dados de pressão e vazão da rede com dados históricos de 60 anos de consumo, a companhia quer aumentar a eficiência operacional e reduzir o risco de vazamentos.
“Nossa rede de abastecimento tem 64 mil quilômetros, com aproximadamente 11 milhões de conexões de tubos subterrâneos, que podem sofrer danos com variações repentinas de pressão. A tecnologia ajuda a reduzir esse risco”, diz o gerente. A Copasa também adotou a detecção de vazamentos por análise de áudio da startup Stattus 4 em um projeto-piloto em Ipatinga, que localizou centenas de pontos de vazamento ou de possíveis ligações irregulares na cidade.
Outra ferramenta adotada pela concessionária são os hidrômetros inteligentes, que medem tanto o consumo quanto a qualidade da água. O cruzamento dos dados permite alertar os consumidores sobre desvios de padrão, que podem ser alertas contra vazamentos nas redes particulares.
Fonte: Valor Econômico – Por Carlos Vasconcellos — Para o Valor, do Rio, 30/08/2024