A queda na demanda de materiais de construção para reforma e para imóveis novos vai resultar em redução expressiva das vendas de materiais em 2016. O segmento de tintas imobiliárias, por exemplo, espera vendas de 7% a 8% menores, e o de revestimentos cerâmicos, recuo de 10% a 11%.
Este é o pior ano do desempenho de tintas imobiliárias, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), Dilson Ferreira. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) estima redução de 12% no faturamento do setor. A maior parte das fontes de materiais de construção ouvidas pelo Valor disseram esperar desempenho em 2017 melhor do que o deste ano.
Os anúncios do cartão reforma, que subsidia a compra de materiais, e da retomada do Construcard, linha de crédito com valor de R$ 7 bilhões, são avaliados como fatores que vão incentivar a comercialização dos produtos do setor. A Abramat avalia que a indústria de materiais vai faturar R$ 160 bilhões, com crescimento real zero. A expectativa é que as vendas comecem a crescer no segundo semestre, de acordo com o presidente da Abramat, Walter Cover.
Em 2016, o desempenho do setor foi impactado pela piora de renda e crédito e pela redução dos lançamentos imobiliários nos últimos anos. No consolidado, as vendas da indústria para o varejo que respondem por 55% do total devem cair 12%, e a comercialização para as construtoras terá queda de 14%.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Claudio Conz, a menor demanda de itens para reformas, principalmente no primeiro semestre, vai resultar em recuo de 6% a 8% das vendas do varejo. Para o próximo ano, a Anamaco projeta alta de pelo menos 5%.
O varejo responde por 80% da comercialização de tintas imobiliárias. Segundo o presidente da Abrafati, houve alta de preços, mas não o suficiente para compensar a redução de volumes e o impacto do maior custo de matériasprimas decorrente da alta do dólar. Ferreira diz que, depois de três anos de queda dos resultados, espera melhora em 2017.
Neste ano, as vendas da Eternit que atua nos segmentos de fibrocimento, louças e metais sanitários terão queda, mas a variação está dentro da esperada, segundo o diretor comercial, Marcelo Vinhola. A expectativa é que o faturamento de 2017 cresça, com manutenção de volumes e recuperação de preços.
Os preços dos produtos de fibrocimento da Eternit ficaram em linha com o orçado, enquanto os volumes estão de 3% a 4% menores. No segmento de metais, o mercado cresce, mas aquém do esperado, segundo o diretor comercial. A ampliação do mix de louças contribuiu para elevação nos preços médios do segmento e para vendas conforme o esperado. "Caminhamos para um volume mais significativo em 2017", diz Vinhola.
A Assa Abloy Brasil, que comercializa portas cortafogo, fechaduras, dobradiças, ferragens, cadeados, fechaduras e sistemas de segurança, não divulga números, mas informa que sua queda de vendas será de metade da projetada para o mercado. Tem sido possível, segundo o presidente da Assa Abloy, Eduardo Castro, minimizar o impacto do cenário desfavorável devido à diversificação do
portfólio de produtos. A Assa Abloy detém as marcas La Fonte, Silvana, Papaiz, Udinese, Metalika e Vault. "Foi possível duas das nossas seis empresas crescerem, consideravelmente, em 2016", disse Castro.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer) estima que as vendas internas de revestimentos cerâmicos terão queda de 13%, neste ano, e que a as vendas totais encolherão de 10% a 11%, segundo o diretorsuperintendente, Antonio Carlos Kieling.
A queda na demanda por revestimento cerâmico ocorreu tanto por parte das construtoras quanto das revendas, principal canal de distribuição do segmento. "Houve perda significativa da renda média, o desemprego cresceu, o endividamento aumentou, e há falta de confiança", diz Kieling. Segundo
ele, é esperada expansão de 2% nas vendas internas, em 2017, e de 3% nas totais.
A SaintGobain conseguiu crescer em materiais de construção neste ano, apesar da queda de volumes ante 2015. A expansão em patamar não informado resultou de ajustes de preços e de mudança no mix de produtos comercializados, de acordo com o presidente da SaintGobain para Brasil,
Argentina e Chile, Thierry Fournier.
A redução dos volumes variou de 6% a 8% conforme a região e o segmento de atuação, mas houve ganho de fatia de mercado em quase todos os negócios, segundo Fournier. Diante da dificuldade do mercado em absorver altas de preços, a SaintGobain elevou valores abaixo da inflação. Para compensar margens, buscou ganhos de custos de produção e logística. A empresa espera impacto, em 2017, da redução dos lançamentos imobiliários na demanda por itens de acabamento, mas vendas melhores do que as deste ano.
Fabricante de produtos de PVC, a Rehau estima manter, no acumulado deste ano, o crescimento de 7% registrado até novembro. No início de 2016, a empresa, que atua nos segmentos de fita de borda para acabamento de chapas de madeira e perfis de PVC para janelas, esperava expansão de 10%
no país. As vendas de fita de borda para o segmento moveleiro cresceram 10%, com aumento de 5% na comercialização doméstica e exportações que mais que dobraram. Já a venda de perfis de PVC caiu 10%.
Para 2017, a expectativa é que as vendas combinadas dos dois segmentos da Rehau cresçam de 9% a 10%. A comercialização de esquadrias tende a aumentar pelo menos 15%, e a de fitas de borda, 8%, segundo o diretorgeral, Alexandre Novoselecki. O executivo diz esperar expansão a partir de abril.
O aumento esperado para as vendas se baseia também em maior atuação no CentroOeste e no Nordeste, em novos produtos e na entrada no segmento de painéis de MDF.
Fonte: Valor - Empresas, por Chiara Quintão, 05/12/2016