A pressão sazonal dos reajustes de mensalidades escolares não foi suficiente para elevar a inflação na primeira quinzena de fevereiro, avaliam economistas. Segundo a estimativa média de 22 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) subiu 0,38% este mês, 0,01 ponto percentual abaixo da taxa de janeiro.

As projeções para a prévia da inflação oficial, a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de alta de 0,30% a 0,49%. Já a inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA-15 deve desacelerar de 3,02% para 2,86% na passagem mensal.

Concentrados no início do ano, os reajustes de mensalidades escolares são capturados pelo IBGE em fevereiro, diz Fabio Romão, da LCA Consultores. Nos cálculos dele, a alta do grupo educação passou de 0,28% em janeiro para 3,28% em fevereiro. "Será a taxa mais alta do ano no grupo educação", afirmou. No fechamento do mês, a expectativa é de ligeira desaceleração, para 3,20%.

Mesmo com o aumento sazonal na parte de educação, o IPCA-15 deve ter recuado para 0,36% em fevereiro, diz Romão, devido principalmente à descompressão prevista para os alimentos. Nas projeções da LCA, o grupo alimentação e bebidas avançou apenas 0,24% este mês, ante 0,76% no dado anterior.

"Tivemos altas bens intensas de alimentos in natura em janeiro e parte disso está sendo devolvida em fevereiro", explica. Além de itens como batatainglesa, tomate e frutas, alimentos industrializados também devem ter contribuído para a alta menor do grupo, acrescenta o economista.

Outro vetor de desaceleração do IPCA-15 partiu do grupo habitação, em função do gás de cozinha, cujos preços caíram 5% nas refinarias no fim de janeiro. Com redução de 1,5% no botijão, a deflação nos preços de habitação aumentou de 0,41% em janeiro para 0,62% na medição atual, diz Romão.

O Santander projeta que a prévia do IPCA subiu 0,36% no segundo mês do ano. Se o dado vier em linha com a previsão, afirma o banco em relatório, "reforça as chances de que a inflação permaneça ao redor ou abaixo do piso da meta até meados deste ano, quadro que justificaria o corte adicional de juros que passamos a esperar".

Na ponta mais pessimista, o UBS prevê que o IPCA-15 acelerou para 0,47% na medição atual. Se confirmada a estimativa, o indicador acumulado em 12 meses permaneceria em 3%, limite inferior da meta inflacionária perseguida pelo BC. Segundo o banco, o índice subiu por causa dos reajustes na parte de educação e, também, da sazonalidade mais pressionada dos alimentos in natura. Por outro lado, segundo o banco, as correções menores nos preços regulados moderaram o avanço da inflação.

Se o comportamento dos preços continuar surpreendendo para baixo e o ambiente externo seguir favorável às economias emergentes, o Comitê de Política Monetária pode fazer mais um corte na Selic em março para 6 5% ao ano, dizem analistas do UBS. Por ora, o banco espera que o Copom deve manter a taxa básica em 6,75% ao ano.

Fonte: Valor - Macroeconomia, por Arícia Martins, 23/02/2018