Registra a história que havia um pé-de-limão no caminho dos primeiros moradores da Freguesia do Ó. Tomada como ponto de referência, a árvore acabou por batizar todo um distrito pelos séculos seguintes.
Mas um limoeiro só não faz verão, e o Limão, o bairro, demorou para engatar. Só loteada nos anos 1920 e mais tarde ocupada por galpões em sua porção sul, a região jamais esteve no top 10, ou top 20, do metro quadrado mais desejado de São Paulo.
Pois bem: a Lusitana rodou, e o distrito vem ganhando certo destaque. (na comparação entre janeiro e julho). Os apartamentos médios, de 91 m² a 139 m² de área total, puxaram os números.
A construtora mineira Direcional é uma a apostar na região. Com previsão de conclusão de obras para o final de 2025, o Reserva Direcional Limão promete 315 unidades de 37 m² a 61 m² (de área privativa) distribuídas por três torres na avenida Professor Celestino Bourroul.
Os pouco mais de 30 apartamentos ainda não vendidos custam aproximadamente R$ 300 mil, segundo Eduardo Mocarzel, superintendente de incorporação de São Paulo da construtora.
O Direcional Limão é considerado Habitação de Interesse Social (HIS), modalidade cujos projetos recebem estímulos fiscais e não costumam se caracterizar pelo conforto. Mas aqui todos os apartamentos possuem varanda; os de 61 m², do térreo, jardim privativo (“garden”). Na área comum, atrativos hoje bastante demandados: pet place, coworking, espaço fitness, bicicletário, piscinas adulta e infantil, churrasqueira, lavanderia, sports bar e minimercado, entre outros.
Vagas de garagem são poucas: cerca de 30.
Mocarzel conta que a Direcional possui outros terrenos no Limão, bairro que considera rico em “conveniência e serviços”. “Pretendemos em 2025 ter mais mil apartamentos na região”, diz.
Um dos novos projetos será junto à subestação elétrica da avenida Clavásio Alves da Silva, marca incontornável da paisagem do Limão que durante anos estabeleceu certo limite informal da ocupação do bairro.
A sul da subestação e da avenida Nossa Senhora do Ó só existiam galpões industriais e eventualmente favelas. A atividade industrial acabou por poluir o solo e a descontaminação agora é uma variável na atratividade dos terrenos.
Talvez por isso essa área baixa do bairro, originalmente várzea do rio Tietê e hoje com clara vocação habitacional, muda em ritmo bem mais lento do que o “pace” da transformação de outras regiões da cidade. Sintomaticamente, ainda não há lojas Oxxo no “Baixo Limão”.
Mas há o Parque Limão, complexo residencial popular com mais de 800 apartamentos da construtora –também mineira– Tenda. Uma das duas torres ainda está por ser erguida, dando ao complexo uma certa cara de “é construção, mas já é ruína”. A coisa deve pegar no breu por ali de fato a partir de 2027 ou 2028, com a perspectiva da inauguração, a cerca de 1,5 quilômetro, da futura estação de metrô Freguesia do Ó da linha 6 – Laranja.
Enquanto isso não acontece, os chamarizes da região seguem poucos, mas de responsa: há a cervejaria Tarantino, que colocou o bairro no mapa dos entusiastas de APAs, IPAs e stouts; e o Centro de Tradições Nordestinas (CTN), uma das mais importantes casas de shows da cidade, na região desde os anos 1990.
A Tarantino ganhou fama pela qualidade e inventividade principalmente de suas ales e agora também por conta das festas em seu amplo terreno. Para o fundador Gilberto Tarantino, como disse à Folha por telefone, a cervejaria tem conseguido mobilizar inclusive público local, apreciador da ZN, a lager de “entrada” da casa, e apreciador também da tabela e da bola de basquete, jamais ociosas.
Por fim, no enclave da ponte Júlio de Mesquita Neto, outra marca do bairro –ela foi inaugurada inacabada pelo ex-prefeito Paulo Maluf em 1996 e até hoje não possui uma alça de acesso à Marginal Tietê–, fica o badalado CTN.
Melhores serviço de bar e custo-benefício de 2024 entre as casas de show de São Paulo para o Guia da Folha, o CTN ocupa área de 27 mil m², tem shows para multidões –Fagner e Falamansa tocam no próximo dia 11– e, com mais de 20 restaurantes e quiosques, é o mais variado spot paulistano de comida nordestina. Serve inclusive buchada de bode, aquele prato sertanejo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comeu uma vez em campanha, e, a julgar pelo que disse ter feito na juventude ao inalar substância bastante mais polêmica, não digeriu.
Cachoeirinha abriga projeto residencial massivo
Bem no final da avenida Inajar de Souza, o cenário era insólito: um túnel escuro e abandonado de quase dois quilômetros de extensão e pistas de asfalto que se deixavam ver imponentes mesmo tomadas por mato, bicicletas, caminhantes, cães e seus donos. Uma composição estranha, surreal, talvez a imagem mais emblemática do inerte Rodoanel Norte.
Por anos a grande intervenção viária não avançou um milímetro. Mas com a retomada das obras, em abril, os moradores do distrito da Cachoeirinha tendem a perder uma opção, ainda que improvisada, de lazer. Restam o largo do Japonês, marco de fundação do bairro, com sua decoração alusiva; a Fábrica de Cultura, aparelho do Estado de São Paulo com lona de circo, estúdios de gravação e salas para performances artísticas; o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, do município; bares e restaurantes.
Mas o distrito tem também seus coringas, e os principais são o Hospital de Vila Nova Cachoeirinha e a maternidade homônima, um dia rara referência na realização de aborto legal no país. Na cena imobiliária, um movimento similar ao do vizinho Limão: aumento de 28,5% da comercialização de apartamentos novos na comparação de janeiro a julho de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Loft.
A diferença para o Limão é que o carro-chefe aqui são os apês de até 90 m² de área total, os menores da classificação da startup imobiliária.
A Vivaz, bandeira popular da Cyrela, tem projeto massivo na Cachoeirinha em fase de acabamento. São três edifícios de 21 andares e 1.022 apartamentos na Inajar, a metros do Centro Ruth Cardoso e do terminal de ônibus Vila Nova Cachoeirinha.
As unidades têm de 35 m² a 56 m², estas últimas com três dormitórios (opção de suíte), varanda e vaga de garagem. A área comum tem equipamentos de lazer, trunfos numa região carente disso e muito úteis para o tamanho da comunidade de condôminos, algo como talvez 4.000 almas. O valor do metro quadrado está em R$ 6.500 e restam menos de 150 unidades à venda.
Para João Quina, gerente-geral de Vendas da Vivaz, a Cachoeirinha “oferece boas perspectivas de valorização devido às melhorias em infraestrutura pública em andamento” e pelo fato de a região apresentar “demanda crescente por moradias”.
Quina explicou à Folha que vários terrenos da região são “lotes individuais, casas ou pequenos comércios” e, apesar da vocação natural dali para projetos financiados pelo Minha Casa, Minha Vida, há ainda “oportunidades” para imóveis de padrões médio e superior.
“O mercado local está em crescimento, com uma demanda diversificada que inclui desde moradias mais acessíveis até opções de maior valor agregado.”
Fonte: Folha de São Paulo – Por Paulo Vieira – São Paulo, 27/09/2024