Construção civil espera ajuda do governo para conter preço do aço

O setor da construção civil espera uma medida do governo federal para evitar uma possível alta de custos do setor decorrente do aumento da taxação sobre o aço estrangeiro imposto pelo governo norte-americano. No mês passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a elevação para 25% nas tarifas de importação do produto.

Ainda é cedo para prever o impacto da medida protecionista de Trump sobre as siderúrgicas brasileiras e os efeitos da taxação nos setores que têm o aço como uma de suas principais matérias-primas, como é o caso da construção civil.

Mas os EUA, hoje, são o maior comprador de aço brasileiro. Das cerca de nove milhões de toneladas exportadas por ano, quase a metade vai para o mercado norte-americano, aproximadamente quatro milhões de toneladas.

Com o impacto nas vendas externas, há dois cenários possíveis para o mercado interno. No primeiro, menos provável, ocorreria a sobra de produto, o que poderia baixar os preços do aço, beneficiando os consumidores brasileiros.

Uma outra possibilidade seria a redução da produção nas siderúrgicas para manter ou aumentar os preços, já que o Brasil não consegue consumir todo o aço produzido atualmente para exportação.

Em reação imediata à medida de Trump, as indústrias siderúrgicas brasileiras pediram a imposição, pelo governo brasileiro, de tarifa de 25% sobre a importação do aço chinês.

IMPACTO NOS CUSTOS

Há pouco mais de um mês da publicação do decreto de Trump anunciando o aumento da taxação, ainda é cedo para mensurar os efeitos da medida no mercado brasileiro, mas a presidente do Sinduscon-Norte/PR, Celia Catussi, acredita em uma movimentação do governo federal para encontrar uma solução que impeça o aumento dos custos da construção civil, o que impactaria tanto os projetos da iniciativa privada quanto os programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida. “O aço é um insumo fundamental. O produto da siderurgia que a gente utiliza é o vergalhão e seu preço influencia bastante nos custos da produção. Não esperamos subsídio, mas um apoio do governo para não ter o aumento. Acreditamos que vai ter um bom senso do governo federal para manter os nossos custos.”

Em 2024, cedendo à pressão das siderúrgicas brasileiras, o governo federal aprovou o aumento da alíquota do imposto de importação do aço chinês. A medida foi uma tentativa de aumentar a competitividade dos produtos nacionais já que o governo da China oferece subsídios às indústrias do setor. A taxação subiu de 12% para 25%.

“Foi um impacto bem grande no mercado, mas em janeiro (de 2025), batemos recorde de importação de aço, com alta de 83% sobre janeiro do ano anterior. Foi o maior volume na história”, destacou o CEO da W.Brazil Trader e especialista em comércio exterior, Ricardo Kono. “Há empresas chinesas que exportam 15 milhões de toneladas de aço por mês para o Brasil.”

Dados levantados por Kono mostram que entre os períodos de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024 e entre fevereiro de 2024 a janeiro de 2025, o valor das importações de aço por empresas de Londrina e região quase triplicou, saltando de US$ 632,9 mil para US$ 1,874 milhão, o que representa um avanço de 196%.

Em quantidade, a alta foi de 171%, passando de 491.134 quilos entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024 para 1.330.744 quilos no intervalo entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025. O levantamento estatístico reuniu os dados de Londrina, Ibiporã, Cambé, Rolândia e Arapongas.

QUEDA DE BRAÇO

Embora a barreira tarifária brasileira não tenha inibido as importações, Kono lembrou que os custos para os importadores e para as empresas do setor da construção civil ficaram maiores. “Os players brasileiros não estão satisfeitos. Exportam bastante, mas querem proteger o máximo possível.”

O CEO avalia que os efeitos da sobretaxa aplicada pelos EUA se reverterá em um grande impacto para os produtores de aço brasileiros. “Mas o Trump quer impor taxas para o mundo e serão implementadas para quem não revidar. China, México, estão revidando. Começou a queda de braço.”

Kono, que retornou recentemente da China, onde esteve prospectando fornecedores de aço para os seus clientes brasileiros, considerou que o produto asiático tem muita qualidade e que a expectativa é de que as importações continuem em alta, apesar de uma possível pressão das indústrias locais na hipótese de os portos norte-americanos se fecharem para o aço brasileiro.

“A construção civil aqui na região de Londrina continua interessante, o mercado de aço continua forte. Temos grandes players aqui e a pretensão é de crescimento para este ano”, disse Kono.

Sobre como irão se comportar as indústrias de aço locais a partir da alta tarifária imposta pelos EUA, o CEO desenha alguns cenários. O menos viável seria a redução dos preços em razão do aumento da oferta do produto.

O especialista em comércio exterior não acredita que os preços baixem mesmo diante da sobra de mercadoria. Uma alternativa seria abrir novos mercados, como países do Oriente Médio, Europa e Mercosul.

 

Fonte: Por Folha de Londrina – 23/03/2025

 

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