O presidente-executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, disse que há uma “certa histeria” sobre a disponibilidade de recursos da poupança para financiar a produção imobiliária e os compradores dos imóveis, que faz parecer que o setor está sem recursos para se bancar.
Em painel do Citi Brazil Equity Conference, realizado nesta terça-feira (1º), ele ressaltou que não há um “desastre de funding”, mas que o setor enfrenta um impasse no crédito para as construtoras e incorporadoras, as pessoas jurídicas dessa relação. “Esse é o problema real.”
Ricardo Gontijo, executivo-chefe da incorporadora Direcional, que atua principalmente no Minha Casa, Minha Vida (MCMV), afirmou que tem sido possível fechar o ciclo imobiliário, com o repasse do financiamento dos compradores para os bancos. Isso tem evitado um cenário “dramático” para as incorporadoras.
Já o início de novas obras está dificultado pela menor disponibilidade de recursos para bancar as construções — a própria Direcional tem recorrido mais ao mercado de capitais, com emissão de CRIs (certificado de recebíveis imobiliários), para financiar a construção dos projetos. Também tem priorizado a velocidade de venda, para reforçar o caixa e aportar menos capital nas obras.
MCMV x imóveis para classe média
Segundo Gontijo, há no setor uma probabilidade de redução de novas obras no SPBE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que abrange, principalmente, os imóveis de classe média. Enquanto isso, o MCMV tem conseguido rodar “sem muitos traumas”.
Os recursos da poupança, mais baratos, estão sendo reservados pelos bancos para o crédito à pessoa física, que compra o imóvel, sendo menos direcionados para as construtoras. Em reais, a queda no financiamento das obras com recursos da poupança foi de 54% até maio, no acumulado do ano.
Nova linha de crédito
A proposta de taxar em 5% no imposto de renda os instrumentos que têm servido de escape ao setor, e que hoje são isentos, como CRIs e LCI (Letra de Crédito Imobiliário), foi criticada no painel.
“Temos que tomar muito cuidado com o que vai ser feito agora, porque pode representar benefício importante para o futuro ou uma trava que não poderia existir”, disse Luiz França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias).
Enquanto isso, há movimentos para dar mais alternativas aos compradores dos imóveis. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, na última semana, que o governo está trabalhando em uma linha de crédito para a classe média. A expectativa é seja indexada ao IPCA, o que já foi tentado em 2019, mas não ganhou popularidade. “A saída é ir para o IPCA+, não tem outra”, afirmou França.
Fonte: Valor Econômico – Por Ana Luiza Tieghi , Valor — São Paulo, 01/07/2025